terça-feira, 9 de novembro de 2010

UM DIA (QUASE) PERFEITO

"...À sobremesa, fez-se silêncio porque o som de vinte e poucos talentosos intérpretes muito jovens - o maestro idem - era fantástico, harmoniosamente perfeito..."
Sendo Domingo, acordei cedo, repousado e  bem-disposto. Se vieram sonhos, ficaram na almofada, que continua silenciosa – melhor assim nas noites dos pesadelos, hoje não se justifica que fique muda, digo de mim para mim.
Desço à cozinha, o café acabado de fazer tem o sabor das variedades Arábica e Robusta, segundo o rótulo. O cheiro intenso agrada-me; bebo o bastante para acompanhar duas torradas.
Volto ao 1º andar, preparo um banho bem quente, coloco o chuveiro a jeito e “mergulho” em dezenas de fios de água!
O rádio portátil, peça indispensável de todas a manhãs, dá-me música sem palavras. Gosto da melodia que vem do solo do piano, a  sobressair de outros sons…
Apresso-me com a roupa. Coisa rara: hoje usarei gravata!
Volto a descer as escadas. Na mesa da cozinha, uma rosa em botão e um cravo cor de vinho tinto. A mãe, com sacrifício no andar, abeirou-se das plantas que insistem em brindar-nos no Outono com flores e colheu duas: a rosa cor-de-rosa e o cravo cor de vinho tinto.
Beijei a mãe Natália – parabéns, disse eu, por ser mãe, mas quem acrescentava mais um ano aos restantes era eu. Quantos? Muitos! Sorrimos os dois…
Havia festa na Banda do Barril de Alva, que comemorava 116 anos! O almoço prometia ser surpresa, não pela ementa, mas pelo modo como seria confeccionado: os ingredientes  colocados em panelas de ferro e estas no lume da fogueira, à "moda antiga", do tempo em que poucos possuiam fogões a gás …
Centena e meia de pessoas - para mais, não para menos! – e eu na lista dos convidados pela inerência de um cargo público que tento desempenhar na medida das minhas virtudes; sendo poucas, faço o que posso (lá vem a lembrança de Torga: "quem faz o que pode, faz o que deve"...).
Canja de galinha e  cozido à portuguesa. Confirmam-se os dizeres das cozinheiras: comida assim, só no tempo dos nossos avós e aqui na Beira Serra, que é onde melhor se misturam os paladares da canja, do cozido, do arroz doce, da tigelada, do cabrito “à moda do Barril de Alva” (procurem no Google…), do bucho “à moda de Vila Cova” e mais e mais…
Vinho da região, não aprecio. O Armando  trouxe um “alentejano de 1985” de estalo! Se a garrafa tivesse sido aberta pelo menos uma horinha antes… – comentei para a vereadora da cultura, sentada à minha direita. Bebericámos o suficiente, nem de mais nem de menos. Na hora dos discursos, cada um deu o seu recado, seguros e aprumados nas palavras.
 No palco, por detrás das cortinas, os músicos da FILARMONIA de Lobão, Santa Maria da Feira, afinavam os instrumentos de forma suave…
À sobremesa, fez-se silêncio porque o som de vinte e poucos talentosos intérpretes muito jovens - o maestro idem - era fantástico, harmoniosamente perfeito.
Entre outros estilos, peças musicais dos grandes mestres do jazz e dos blues – como se fosse num sonho e num outro sítio, do outro lado do mundo!
 ”My Way”! Só falta o Frank Sinatra para adoçar ainda mais a melodia – comentei com a doutora Paula Dinis, que continuava sentada à minha direita, tão embevecida quanto eu com o concerto…
A meio da tarde, pensei que o dia de Domingo seria magistral… antes de acabar!
Erro meu, ”má fortuna” nos meus desejos, cilindrados por cinco golos de um dragão que chispa labaredas.
… Não fora isso e o meu dia de domingo tinha sido… quase perfeito.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Amola-tesouras"






Um dia destes, em Coja, deparei com uma das minhas memórias de menino.Fica a imagem do "Nokia" como registo do momento solene de uma "gaitada" enquanto não chegavam os clientes...




sábado, 16 de outubro de 2010

Por favor, sorriam...

 Em Maio de 2008 "roubei" esta delícia  de texto e publiquei-o   no "Ritual".
- Por favor, sorriam e... comentem!
                                                                                                                                  ....
"Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q á razões qd um aluno não vai á escola. primeiros a peçoa n se sente motivada pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.
Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto montanhoso? ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? ou cuantas estrofes tem um cuadrado? ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã? E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os lesiades', q é um livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah. Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver??? O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um gravetame do camandro. Ah poizé. tarei a inzajerar?"



domingo, 10 de outubro de 2010

Outono com cores de Primavera

Acordei cedo depois de uma noite com chuva intensa.Olhei pela janela e vi as cores do arco íris mais brilhantes.Decidi sair e participar da festa.
O "meu" rio vai grosso, negro e mal cheiroso; no Urtigal, arrancou a ponte das costuras
 e deixou um vazio na paisagem - apenas um contratempo, não um problema - na próxima Primavera, voltará a passagem para a outra margem ( há sempre uma primavera no outono de cada um de nós e uma passagem para a outra margem...).
Por agora, sobram os medronhos e as bolinhas de chuva a enfeitar as folhas das árvores... porque é outono,  com cores de primavera.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A emoção de ter inveja - parte II

A Graça é  uma das  amigas de quem tenho saudades, sobretudo do tempo em que, ao final da tarde, depois de um dia de "engenharias" ao serviço do PDM do municipio de Oliveira do Hospital,  vinha ao meu  "Ritual" (bar)  tomar o seu chá.  Chegava quase sempre de sorriso bonito  a enfeitar o rosto  ( igualmente bonito...) e trazia, por norma, tema de conversa interessante; por altura das férias, comentavamos os  ( seus ) eventuais destinos, por isso  dediquei-lhe uma das minhas croniquetas, que fiz publicar no "Correio da Beira Serra" de boa memória.
Agora, há poucas horas,  "provocou o meu lado invejoso"  numa breve mensagem: estive de férias na China e no Tibete!!!
Imaginem ... por onde andou a Graça!
Vai daí, para fazer fé da minha (renovada) "inveja", decidi republicar  a croniqueta de outros tempos com ligeiras alterações e dedicatória personalizada  à Graça,  com " os olhos em bico", e ao casal João Luís / Rosa Maria, "feitos"  descobridores  do Etna  em viagem por mares "antes navegados"...
..
Alguns dos meus amigos estão de férias e a minha inveja é proporcional à qualidade imaginária das ditas, isto é: se o destino foi a Figueira, vá que não vá; Algarve, eriçam-se os cabelos, se foram de abalada até Punta Cana e arredores, começo a ficar vermelho, mas quando me chegam notícias da velha Europa, do tipo: “olá, por aqui está tudo bem, estou a jantar em Varsóvia (…), a passear por Riga (capital da Letónia, imaginem!) …”etc e tal, chispo labaredas!
A inveja é um tipo de sentimento interessante, estou de acordo com Rui Zink, escritor de mérito - que aprecio por certa linguagem desabrida - porque quando existe, a inveja, é sinal de que ambicionamos o mesmo que o parceiro do lado: emprego “fixe” e bem remunerado, talvez um carrinho com motor, mais actual, mesmo uns dias de férias em paragens de puro exotismo panfletário, por exemplo….
Diz o escritor: “…Calar uma emoção tão salutar como a inveja, que é o desejo de estar melhor (e não necessariamente o desejo de o outro estar pior), leva a quê? Ao sufoco, à castração emocional…” – uff, nem mais!
A partir deste “elogio”, alguém se atreve a condenar uma das minhas invejas, por mais pequenina que seja?
Haverá outras “invejas” que não são próprias de gente de bem, mas enfim...
Ora, a minha inveja, perfeitamente assumida, não é incomodativa, apesar de tudo, e como não faço uso dela, fico-me pelas raivinhas, igualmente invejosas e assumidas, sobre as viagens, passeios e visitas turísticas dos meus amigos.
Bom, falava de férias e da inveja que me corrói as entranhas pelo gozo com que os meus amigos ostentam o tom moreno trazido da praia - praia para mim é uma chatice: areia em demasia, água salgada, ondas revoltas, sol, muito sol… calor! Praia de jeito é a que tem esplanadas, mesas e cadeiras confortáveis, cervejinhas bem frescas, e, já agora, uns camarões grelhados para desenjoar da bebida; se houver mar calmo e o reflexo da lua nas águas vier acompanhado do romantismo de companhia agradável e gentil, tanto melhor……
Recordo que o ano passado, por esta altura, sofri da mesma maleita; dados os factos passados e presentes, acho que sou portador de um “vírus crónico” que não se dá nada bem com este tempo… de férias.
-“Hoje estou em Tallinn ( capital da Estónia)” e estou a adorar… – escreve a Graça, para me “irritar”, só pode.
Quando voltar, há-de contar tudo, tintim por tintim…
(... Desta vez  quero  ouvir o que a Graça aprendeu a dizer em... chinês - convidei-a para um chá sem "segredos"...)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Chã da Cabeça, Cepos : “ABERTO NAS NUVENS”

Deixo o Pavilhão de Chã da Cabeça ao começo da tarde e sigo, estrada fora, na direcção do centro dos Cepos, onde não ia há imenso tempo.
Atento ao horizonte, não viro à esquerda, na direcção de Arganil, sigo em frente, a rua parece-me larga, mas logo estreita, e fico sem a certeza de conduzir o meu carro “são e salvo” até ao largo, junto à Igreja.
Com alguma paciência e um pouco de jeito, cheguei ao destino, não sem antes conseguir o milagre de riscar o pára-choques apenas uma vez - coisa de pouca monta -, e não será este pequeno contratempo a afastar-me dos Cepos; mais dia, menos dia, volto ao Chã da Cabeça.
Olhar do cimo do monte o vale do Ceira e perder o olhar no horizonte, recortado pelos novos moinhos de vento, é um exercício emocional que há muito não praticava. Esta espécie de viagem ao “interior de mim”, com as portas da alma abertas de par em par, só teve semelhança a uma outra, há cerca de um ano, quando o João Luís  me levou ao alto do Colcurinho. Sorte a minha por ter subido duas vezes num ano acima das nuvens, neblina para outros – nuvem ou neblina, que importa?, o manto era branco e estava suspenso sobre o vale...

(Surripiada na net)

Chã da Cabeça reserva-nos esta imagem de beleza impar, sem intervenção humana para dourar o olhar, mas oferece bastante mais, graças ao sonho de quem imaginou o “espaço aberto nas nuvens” como um recanto do “paraíso na terra”. A piscina - sim, a piscina! -, embora com serventia limitada no tempo, é um pólo de atracção, a ter em conta, mas as atenções de quem chega pela primeira vez vão por inteiro para o excelente pavilhão multiusos enquadrado na paisagem, que se contempla do interior de qualquer ângulo. O parque merendeiro e o recinto para a prática do futebol completam a oferta turística de Chã da Cabeça que, além do mais, está conservado e esteticamente arrumado no seu todo.
A Assembleia Municipal de Arganil de sábado, dia 25 de Setembro, teve lugar nos Cepos. Foi por ela que subi ao monte mais alto da freguesia pela primeira vez, e ainda bem…

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Colcha à janela

(Surripiado da net)
Não tenho de memória a última vez em que, no Barril de Alva, pela última vez se festejou a santa Maria Madalena, com imagem no altar da capela que lhe honra o nome. Este ano, recuperou-se o evento…
Os festejos mantiveram a tradição, entre o bailarico e os leilões de fogaças (três, desta vez…) missa e procissão, banda Filarmónica em concerto (s) e passeio pelo casal; para que o brilho de outros tempos estivesse presente, houve colchas nas janelas enquanto se passeavam as imagens dos santos ao som da Banda. Apesar do calor intenso, bem perto da hora do meio-dia deste domingo, dia 12, a procissão arregimentou razoável quantidade de participantes.
Como as tradições também se alteram - pode parecer um paradoxo -, não dei conta do ribombar dos foguetes, pormenor a ter em conta… nas contas que serão apresentadas a quem de direito, “eclesiásticamente” falando, como é bom de ver. ..
Mesmo sem o barulho dos morteiros e as “lágrimas” dos foguetes, à noite, a festa foi bonita de ver…
Para o ano há mais: nomeados (?) os mordomos, espera-se festa rija, de preferência sem foguetes, como agora.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Da lousa ao "Magalhães"

Regresso a outros tempos e recupero um texto com que desejo homenagear os alunos que passaram pela escola primária do Barril de Alva, onde aprendi a ler, escrever e as "contas"... 
Com a reabertura das escolas, há um novo cíclico na aprendizagem das coisas com que os jovens hão-de enfrentar o mundo – um enorme mercado onde (quase) tudo se compra.
Por ora, a festa está para durar durante mais uns tempos porque a alegria de quem reencontra amigos e colegas de faixas etárias semelhantes é contagiante. O conhecimento virá depois, durante meses de cansaço intelectual até atingir a meta no próximo Verão
Debruço-me com alguma nostalgia sobre as descobertas dos mais pequenos no 1º ciclo (ex escola primária); às novas matérias juntam-se as brincadeiras que fazem de cada intervalo um momento único: à falta do pião e das corridas dos “arcos”, inventam-se outros jogos, mas a bola e a “macaca” continuam a fazer parte da lista que todos soletrámos no tempo certo…
A ocupação dos “intervalos” das aulas acompanhou a evolução das mesmas, já não há o papaguear dos rios e afluentes, das linhas-férreas e ramais, e até “cantar a tabuada” caiu em desuso, para o bem e para o mal na aprendizagem das “contas”. A professora Georgina, por exemplo, levava tudo muito a sério, e ai de quem não tivesse na ponta da língua “quantos eram 9 x8”!
A “minha” escola, por onde passaram milhares de alunos, continua de pé: uma sala de aula de cada lado, e ao centro a residência dos professores, encimada por um varandim em ferro que servia de púlpito à mestra nos intervalos mais prolongados:
-Meninos, pouco barulho, já lá para dentro!
E nós, claro, obedecíamos porque tínhamos nos ouvidos os sons da régua quando vinha lá do alto “descansar” nas palmas das nossas mãos…
As “contas” eram feitas na “pedra” (lousa) com um lápis da mesma matéria, e no fundo da sala havia um mapa de Portugal para onde nos dirigíamos quando a professora assim o entendia.”Ir ao mapa ou ao quadro” deixava os alunos com tremedeira nas pernas porque a professora Georgina fazia-se acompanhar por uma “vara da índia”…para apontar e “espantar a ignorância” que das nossas cabeças.
Uma vez, na quarta classe, confundi os feitos heróicos de Vasco da Gama e Fernão de Magalhães; o castigo não se fez esperar como era moda, por isso deixei de “ver com bons olhos” estas duas figuras dos mares nunca dantes navegados.
Passado meio século, eis que um deles, o “Magalhães”, passa a ser motivo de conversa em tudo quanto é sítio, só que desta vez não me apanhou desprevenido: tenho um Toshiba ( em tempo: agora um ASUS), de quem é “primo”, e agora já não confundo as aventuras dos dois mestres marinheiros – o Google está ao alcance de um “click” e a resposta vem de imediato!
Se a professora Georgina fosse viva, apesar de rezinga, a sua competência de mestre-escola estaria à altura de utilizar as novas tecnologias em benefício dos alunos – disso tenho a certeza! - e eu, quem sabe, teria ido além da Taprobana se tivesse um “Magalhães” à disposição…
Agora (como antes, mas de outra forma…) já não há desculpas para ir mais longe “ sem sair de casa”! Portanto, façam o favor de viajar na nova “caravela portuguesa” na companhia das vossas crianças, com estas ao leme.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Recanto

Mil vezes reproduzida em imagens, captadas dos mais diversos ângulos, a ponte sobre o Alva, aqui no meu sítio, espreita um "novo olhar" de quem  a vê - como é o caso deste "clique" a meio da tarde.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O brinquedo de corcódea

(Imagem surripiada na Internet)
À sombra do meu gostar.
Era  uma quinta enorme, com terreno de cultivo bordejado de macieiras.E tinha uma casa de arrumos onde guardava as minhas construções de corcódea; a última foi uma miniatura de um carro - de -bois ( o transporte da época para o renovo da quinta, onde se "dava de tudo", como se fala por aqui...).
Em fevereiro de um ano, as terras estavam de pousio e eu também, sem grandes quereres nos meus onze anos, mas fui de livre vontade até onde o navio me deixou, quase um mês depois do adeus a Lisboa.
Lourenço Marques era  uma cidade linda, tão linda que me prendeu nos seus encantos - ainda morro de amores por ela!
Um dia, homem feito, regressei ao meu sítio e voltei à quinta, de visita...para procurar o meu carrinho de corcódea com duas rodas minúsculas e umas figurinhas que em nada se assemalhavam a animais de carga, ainda por cima sem chifres - lembro-me muito bem do feitio da minha "escultura"!
Tinha a certeza de que a deixara numa prateleira, ao alcance da mão...mas a prateleira estava vazia!
...Regressei há minutos de nova viagem à quinta abandonada, onde agora crescem pinheiros bravos...
Da casa, duas meias paredes e, aberta numa delas, a prateleira "guarda a alma" do meu brinquedo...
"Amén"
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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Urtigal


Junto da bica água cristalina
Às torrentes impuras a caminho do Mondego.
Faço da nova ponte mirante da paisagem
E poetizo para dentro de mim:
- É belo o Urtigal!
Ramos Vilaça

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Barril de Alva: outros tempos, a beleza de sempre

Não há dia, mês ou ano para situar esta saudade que, acima de tudo para os entrados na idade, lembra as agruras de outros tempos.Que era muito belo o cenário, ninguém discute...

sábado, 29 de maio de 2010

Como se fossem dois adolescentes

Volto ao "Ritual" de muitas memórias, como esta, autêntica,
que conto vezes sem conta,
como se fosse um conto
que se conta
sem acrescentar um ponto.
A meio da tarde, no bar, havia mesas livres; o casal entrou, escolheu uma delas, olharam os dois em redor e, instalados, pediram que lhe servisse duas bebidas.
Os olhares perdiam-se pelas paredes, onde estavam exposta pinturas do Wild de Wildt, Rui Monteiro e Alberto Péssimo; a. música ambiente aconchegava o sossego do momento e o tom das suas vozes era suave.
Tocou um telemóvel, a senhora atendeu, levantou apenas um pouco a voz e falou em francês, expedita, de forma alegre. Repetiu por três vezes merci, e continuou, veloz, na articulação das palavras – sinal de que, para si, a língua de Nicolas Sarkozy lhe era familiar…
O cavalheiro, entretanto, inquire sobre o espaço: é público, não? Respondo afirmativamente. Sabe, acrescenta, como tem um estilo completamente diferente do habitual, a minha esposa deduziu que fosse um “clube privado”. Em traços largos, explico que o comércio das bebidas era um pretexto para algumas actividades culturais - a exposição que tinham à sua frente era um exemplo disso mesmo.
Terminada a conversa, foi a vez da senhora parabenizar os autores das obras expostas e quem tivera o arrojo de colocar de pé o espaço como se apresenta.
Agradeci a generosidade do que foi dito.
Pergunto se estão de férias por estas paragens. Responde a senhora: de férias já estamos há imenso tempo, somos reformados, e viemos de Leiria passar uns dias a esta região, que desconhecíamos em absoluto, pernoitamos na Pousada do Convento do Desagravo e durante o dia damos uns passeios por aí. É muito lindo, tudo aqui à volta, a serra, tudo!
O encantamento do olhar, transmitia alegria, satisfação, prazer, felicidade na forma mais pura – que sei eu desse sublime sentimento?
Sempre de sorriso nos lábios, desenhados num rosto de enorme beleza, disse ao que vieram em concreto, desvendou o segredo, enquanto o marido, talvez um pouco envergonhado, olhava terno e meigo a “jovem” e bonita esposa: faço hoje oitenta anos, e o meu marido presenteou-me com este magnífico passeio.
Oitenta?
Não, não imaginava aquela figura esbelta, meã na altura e aspecto prazenteiro com uma mão cheia de “viçosas primaveras”, muito próxima do centenário que, acrescentei, por certo irá comemorar…
Pedi licença por breves segundos, saí, fui à florista Clara, logo na esquina, comprei uma rosa (que não paguei, por que a Clara conhece de longe o meu “vício” por flores e partilha comigo a sensibilidade do belo, e volta não volta tem destas delicadezas…), e com o meu melhor sorriso ofereci-a à bonita senhora – apenas uma lembrança com que procurei honrar o seu aniversário e o amor do casal
…Fiquei com a sensação de que a rosa vermelha “ganhou vida própria” e um “rosto” – “um dos olhinhos sorriu, atirou-me uma piscadela” e eu fiquei a ver o casal, de mão dada, rua acima, como se fossem dois adolescentes apaixonados.

sábado, 8 de maio de 2010

Exposição de Pinturas

De 6 a 28 deste mês, Octávio da Cruz Rodrigues, barrilense pelo coração, definido no catálogo como "... um pintor de raizes populares, um autodidacta que divide a sua arte entre o desenho, aguarela e pintura a óleo, tendo nesta última a sua grande paixão...", expõe na Sala Guilherme Filipe, no Museu de Arganil, vinte uma obras, entre acrílicos e óleos, a merecerem especial atenção, sobretudo dos barrilenses ...

A arte de Octávio Rodrigues retrata com mestria algumas figuras da nossa freguesia, sítios e monumentos. A exposição, initulada "Da Beira-Mar à Beira Serra", é uma "junção das duas partes da vida do artista, que encontrou no Barril de Alva e nas suas populações uma fonte de inspiração inesgotável..." - refere a brochura da exposição.

Brevemente, o artista fará uma mostra da sua arte na "Sala Multiusos", na nossa Freguesia.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

“Boas festas”

Os primeiros dias deste ano foram uma chatice, a começar pela digestão dos restos dos abusos da noite de 31 de Dezembro, e acabar na retribuição atrasada dos beijinhos e abraços, acompanhados dos inseparáveis desejos de “boas festas” e “feliz ano”.
Chatas, digo eu, são essas dezenas de mensagens electrónicas, quase sempre com os mesmos dizeres, gémeas de outras tantas, recebidas uns dias antes pelo Natal. Nada a fazer (a não ser desligar o telemóvel, e é o que farei para o ano – está prometido!), o hábito está criado; a saudade dos cartões de “boas festas” ainda não é total, mas para lá caminha. Por acaso (só por acaso?), dos mais chegados e conhecidos, não recebi sequer um cartãozinho como amostra, paciência. Isto é bom, ou mau, sinal dos tempos de agora?

Este ano (sim, já em 2010. … e antes do Natal, também!) abusei da perda voluntária da memória e não houve “boas festas” para ninguém, à excepção, claro, das vezes em que fui obrigado a entoar a cantilena quando me cruzava com as boas maneiras na ponta da língua de alguém, até no supermercado, onde as meninas das caixas estavam travestidas de “mãe natal”. Pobre das pequenas, ao que são obrigadas, em nome de uma tradição americana, embora dos livros não conste que o “pai natal” tivesse companheira, “mãe de tantos filhos”…

Como não me apeteceu brincar ao natal (as couves e as batatas com bacalhau pertencem a outra estória, porque me lambuzo - salvo seja - com frequência com a receita, e não apenas para cumprir a tradição), ocupei estes dias com a leitura de duas obras que tinha à cabeceira. Não fui até ao fim, mas adiantei os marcadores das páginas, o que não é nada mau.

Portanto, “Rio das Flores”, do Miguel Sousa Tavares, já vai para lá do meio, “O Último Bandeirante”, do Pedro Pinto, está quase no fim, e para que não digam que fiquei por aqui, ainda fui a tempo de ler, de fio a pavio, “O Apicultor”, de Maxence Fermine, e da “Palavra Mágica”, do Rui Zink, falta devorar uma das suas crónicas, o que é óptimo para quem passa horas a  a ler jornais e a “postar” em três blogues, o que me dá algum gozo, confesso, porque posso armar-me em escritor e/ou poeta no anonimato, ou nem por isso, e…sempre aparece alguém por lá que me alimenta o ego com recados de parabéns! (“Brigadinho” a tanta simpatia…).

Foi o que aconteceu nestes últimos dias: meia dúzia de comentários gentis, “agravados” com votos de “boas festas e um 2010 cheio de coisas boas, edecetra” e tal – como é costume – e eu, mesmo assim, mantive-me a “leste do Natal”…

…Pensando bem, ninguém tem culpa do meu mau humor, a ponto de fugir do Natal, como se ele fosse coisa má, e não é, pelo contrário – bem vi como se comportaram as crianças do Barril (o meu sítio de todas as horas) em Óbidos, a “Vila Natal” por uns tempos. A felicidade que traziam nos olhitos, na viagem de regresso, devolveu-me o encanto da época, quando também era criança. Abençoadas sejam todas elas, as crianças, por muitos anos e bons. Para o ano vou enfileirar ao lado dos felizardos que “acreditam” no pai natal, e distribuir “boas festas” a toda a gente – fica (também) prometido!

Afinal de contas, não custa nada sonhar com um velhote vestido de vermelho, com barbas brancas, gnomos, fadas, renas voadoras e tudo o mais… quando se tem imaginação fértil, como as crianças.

Quanto às mensagens electrónicas, gémeas das que recebi este ano, isso é um caso a ver depois de ligar o telemóvel…

sábado, 2 de janeiro de 2010

Espectacular!

A Rosa Maria é senhora de várias sensibilidades.No que à fotografia diz respeito, fica o exemplo de  um "clique" fantástico, ainda 2010 era uma criança...
Para que conste: a imagem foi recolhida no Barril de Alva!