terça-feira, 28 de setembro de 2010

A emoção de ter inveja - parte II

A Graça é  uma das  amigas de quem tenho saudades, sobretudo do tempo em que, ao final da tarde, depois de um dia de "engenharias" ao serviço do PDM do municipio de Oliveira do Hospital,  vinha ao meu  "Ritual" (bar)  tomar o seu chá.  Chegava quase sempre de sorriso bonito  a enfeitar o rosto  ( igualmente bonito...) e trazia, por norma, tema de conversa interessante; por altura das férias, comentavamos os  ( seus ) eventuais destinos, por isso  dediquei-lhe uma das minhas croniquetas, que fiz publicar no "Correio da Beira Serra" de boa memória.
Agora, há poucas horas,  "provocou o meu lado invejoso"  numa breve mensagem: estive de férias na China e no Tibete!!!
Imaginem ... por onde andou a Graça!
Vai daí, para fazer fé da minha (renovada) "inveja", decidi republicar  a croniqueta de outros tempos com ligeiras alterações e dedicatória personalizada  à Graça,  com " os olhos em bico", e ao casal João Luís / Rosa Maria, "feitos"  descobridores  do Etna  em viagem por mares "antes navegados"...
..
Alguns dos meus amigos estão de férias e a minha inveja é proporcional à qualidade imaginária das ditas, isto é: se o destino foi a Figueira, vá que não vá; Algarve, eriçam-se os cabelos, se foram de abalada até Punta Cana e arredores, começo a ficar vermelho, mas quando me chegam notícias da velha Europa, do tipo: “olá, por aqui está tudo bem, estou a jantar em Varsóvia (…), a passear por Riga (capital da Letónia, imaginem!) …”etc e tal, chispo labaredas!
A inveja é um tipo de sentimento interessante, estou de acordo com Rui Zink, escritor de mérito - que aprecio por certa linguagem desabrida - porque quando existe, a inveja, é sinal de que ambicionamos o mesmo que o parceiro do lado: emprego “fixe” e bem remunerado, talvez um carrinho com motor, mais actual, mesmo uns dias de férias em paragens de puro exotismo panfletário, por exemplo….
Diz o escritor: “…Calar uma emoção tão salutar como a inveja, que é o desejo de estar melhor (e não necessariamente o desejo de o outro estar pior), leva a quê? Ao sufoco, à castração emocional…” – uff, nem mais!
A partir deste “elogio”, alguém se atreve a condenar uma das minhas invejas, por mais pequenina que seja?
Haverá outras “invejas” que não são próprias de gente de bem, mas enfim...
Ora, a minha inveja, perfeitamente assumida, não é incomodativa, apesar de tudo, e como não faço uso dela, fico-me pelas raivinhas, igualmente invejosas e assumidas, sobre as viagens, passeios e visitas turísticas dos meus amigos.
Bom, falava de férias e da inveja que me corrói as entranhas pelo gozo com que os meus amigos ostentam o tom moreno trazido da praia - praia para mim é uma chatice: areia em demasia, água salgada, ondas revoltas, sol, muito sol… calor! Praia de jeito é a que tem esplanadas, mesas e cadeiras confortáveis, cervejinhas bem frescas, e, já agora, uns camarões grelhados para desenjoar da bebida; se houver mar calmo e o reflexo da lua nas águas vier acompanhado do romantismo de companhia agradável e gentil, tanto melhor……
Recordo que o ano passado, por esta altura, sofri da mesma maleita; dados os factos passados e presentes, acho que sou portador de um “vírus crónico” que não se dá nada bem com este tempo… de férias.
-“Hoje estou em Tallinn ( capital da Estónia)” e estou a adorar… – escreve a Graça, para me “irritar”, só pode.
Quando voltar, há-de contar tudo, tintim por tintim…
(... Desta vez  quero  ouvir o que a Graça aprendeu a dizer em... chinês - convidei-a para um chá sem "segredos"...)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Chã da Cabeça, Cepos : “ABERTO NAS NUVENS”

Deixo o Pavilhão de Chã da Cabeça ao começo da tarde e sigo, estrada fora, na direcção do centro dos Cepos, onde não ia há imenso tempo.
Atento ao horizonte, não viro à esquerda, na direcção de Arganil, sigo em frente, a rua parece-me larga, mas logo estreita, e fico sem a certeza de conduzir o meu carro “são e salvo” até ao largo, junto à Igreja.
Com alguma paciência e um pouco de jeito, cheguei ao destino, não sem antes conseguir o milagre de riscar o pára-choques apenas uma vez - coisa de pouca monta -, e não será este pequeno contratempo a afastar-me dos Cepos; mais dia, menos dia, volto ao Chã da Cabeça.
Olhar do cimo do monte o vale do Ceira e perder o olhar no horizonte, recortado pelos novos moinhos de vento, é um exercício emocional que há muito não praticava. Esta espécie de viagem ao “interior de mim”, com as portas da alma abertas de par em par, só teve semelhança a uma outra, há cerca de um ano, quando o João Luís  me levou ao alto do Colcurinho. Sorte a minha por ter subido duas vezes num ano acima das nuvens, neblina para outros – nuvem ou neblina, que importa?, o manto era branco e estava suspenso sobre o vale...

(Surripiada na net)

Chã da Cabeça reserva-nos esta imagem de beleza impar, sem intervenção humana para dourar o olhar, mas oferece bastante mais, graças ao sonho de quem imaginou o “espaço aberto nas nuvens” como um recanto do “paraíso na terra”. A piscina - sim, a piscina! -, embora com serventia limitada no tempo, é um pólo de atracção, a ter em conta, mas as atenções de quem chega pela primeira vez vão por inteiro para o excelente pavilhão multiusos enquadrado na paisagem, que se contempla do interior de qualquer ângulo. O parque merendeiro e o recinto para a prática do futebol completam a oferta turística de Chã da Cabeça que, além do mais, está conservado e esteticamente arrumado no seu todo.
A Assembleia Municipal de Arganil de sábado, dia 25 de Setembro, teve lugar nos Cepos. Foi por ela que subi ao monte mais alto da freguesia pela primeira vez, e ainda bem…

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Colcha à janela

(Surripiado da net)
Não tenho de memória a última vez em que, no Barril de Alva, pela última vez se festejou a santa Maria Madalena, com imagem no altar da capela que lhe honra o nome. Este ano, recuperou-se o evento…
Os festejos mantiveram a tradição, entre o bailarico e os leilões de fogaças (três, desta vez…) missa e procissão, banda Filarmónica em concerto (s) e passeio pelo casal; para que o brilho de outros tempos estivesse presente, houve colchas nas janelas enquanto se passeavam as imagens dos santos ao som da Banda. Apesar do calor intenso, bem perto da hora do meio-dia deste domingo, dia 12, a procissão arregimentou razoável quantidade de participantes.
Como as tradições também se alteram - pode parecer um paradoxo -, não dei conta do ribombar dos foguetes, pormenor a ter em conta… nas contas que serão apresentadas a quem de direito, “eclesiásticamente” falando, como é bom de ver. ..
Mesmo sem o barulho dos morteiros e as “lágrimas” dos foguetes, à noite, a festa foi bonita de ver…
Para o ano há mais: nomeados (?) os mordomos, espera-se festa rija, de preferência sem foguetes, como agora.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Da lousa ao "Magalhães"

Regresso a outros tempos e recupero um texto com que desejo homenagear os alunos que passaram pela escola primária do Barril de Alva, onde aprendi a ler, escrever e as "contas"... 
Com a reabertura das escolas, há um novo cíclico na aprendizagem das coisas com que os jovens hão-de enfrentar o mundo – um enorme mercado onde (quase) tudo se compra.
Por ora, a festa está para durar durante mais uns tempos porque a alegria de quem reencontra amigos e colegas de faixas etárias semelhantes é contagiante. O conhecimento virá depois, durante meses de cansaço intelectual até atingir a meta no próximo Verão
Debruço-me com alguma nostalgia sobre as descobertas dos mais pequenos no 1º ciclo (ex escola primária); às novas matérias juntam-se as brincadeiras que fazem de cada intervalo um momento único: à falta do pião e das corridas dos “arcos”, inventam-se outros jogos, mas a bola e a “macaca” continuam a fazer parte da lista que todos soletrámos no tempo certo…
A ocupação dos “intervalos” das aulas acompanhou a evolução das mesmas, já não há o papaguear dos rios e afluentes, das linhas-férreas e ramais, e até “cantar a tabuada” caiu em desuso, para o bem e para o mal na aprendizagem das “contas”. A professora Georgina, por exemplo, levava tudo muito a sério, e ai de quem não tivesse na ponta da língua “quantos eram 9 x8”!
A “minha” escola, por onde passaram milhares de alunos, continua de pé: uma sala de aula de cada lado, e ao centro a residência dos professores, encimada por um varandim em ferro que servia de púlpito à mestra nos intervalos mais prolongados:
-Meninos, pouco barulho, já lá para dentro!
E nós, claro, obedecíamos porque tínhamos nos ouvidos os sons da régua quando vinha lá do alto “descansar” nas palmas das nossas mãos…
As “contas” eram feitas na “pedra” (lousa) com um lápis da mesma matéria, e no fundo da sala havia um mapa de Portugal para onde nos dirigíamos quando a professora assim o entendia.”Ir ao mapa ou ao quadro” deixava os alunos com tremedeira nas pernas porque a professora Georgina fazia-se acompanhar por uma “vara da índia”…para apontar e “espantar a ignorância” que das nossas cabeças.
Uma vez, na quarta classe, confundi os feitos heróicos de Vasco da Gama e Fernão de Magalhães; o castigo não se fez esperar como era moda, por isso deixei de “ver com bons olhos” estas duas figuras dos mares nunca dantes navegados.
Passado meio século, eis que um deles, o “Magalhães”, passa a ser motivo de conversa em tudo quanto é sítio, só que desta vez não me apanhou desprevenido: tenho um Toshiba ( em tempo: agora um ASUS), de quem é “primo”, e agora já não confundo as aventuras dos dois mestres marinheiros – o Google está ao alcance de um “click” e a resposta vem de imediato!
Se a professora Georgina fosse viva, apesar de rezinga, a sua competência de mestre-escola estaria à altura de utilizar as novas tecnologias em benefício dos alunos – disso tenho a certeza! - e eu, quem sabe, teria ido além da Taprobana se tivesse um “Magalhães” à disposição…
Agora (como antes, mas de outra forma…) já não há desculpas para ir mais longe “ sem sair de casa”! Portanto, façam o favor de viajar na nova “caravela portuguesa” na companhia das vossas crianças, com estas ao leme.