sábado, 12 de maio de 2012

Coimbra "nunca vista"

 Imagine-se um "puto", após dois exames semelhantes, da quarta classe e da admissão ao liceu, ir de abalada até Coimbra sem nunca ter saído da aldeia; isto é: os meus  passeios, de tão curtos no tempo, não proporcionavam grandes conhecimentos das coisas  e dos lugares- passeios desses  contabilizei vários, incluindo um a Viana do Castelo, por ocasião das Festas do Senhor da Agonia. 
E tinha ido a Lisboa em tempo indeterminado na minha memória...
Coimbra  era um  sonho do meu tamanho, pequeno, sem dúvida, mas não deixava de ter a importância da ideia que alguns companheiros das brincadeiras do arco, do pião ou dos futebois no largo da escola, fizeram florir enquanto crescia na idade. Coimbra, aqui tão perto, enfim, era o tudo do muito que sabia existir pela leitura das brochuras publicitárias. 
Coimbra era a Universidade, o liceu, a escola técnica - destinos certos para quem, com posses económicas, procurava  fontes do conhecimento. E havia o Seminário, que transformava meninos em homens vestidos de preto, bem falantes, como o padre Januário,  que ao domingo, dizia a missa numa linguagem  imperceptível, menos o discurso sobre regras e boas maneiras, em nome de Deus e dos  Santos. Eu, confesso, sentia alguma atracção pelo sacerdócio, ao estilo do padre Januário, mas preferia desenhar, pintar, retratar,  como tentei certa vez ao reproduzir o rosto da avó Virgínia no papel; a boa vontade de quem olhava, afiançava semelhanças...
Finalmente, Coimbra!
Primeiro, uma visita rápida à casa situada na rua João Jacinto, ao Quebra Costas, para conhecer as pessoas com quem iria partilhar o meu novo tempo de estudante, após registo no liceu  D. .João III, depois a viagem definitiva para o desconhecido. Entre idas e vindas periódicas à aldeia, durante  o ano lectivo,  armazenei  aprendizagem quanto baste  para me apaixonar pela cidade e estilo de vida dos estudantes.
... E havia o campo de futebol, bem junto ao jardim da Sereia, o Santa Cruz, para onde corria sempre que  a ausência de um ou outro professor  o permitia; se havia jogo combinado, fazia gazeta às aulas!
Na casa ao lado daquela onde morava havia um lar de raparigas, das crescidas, adiantadas nos estudos. Certa noite, acordei com o som das guitarras; depois, uma voz timbrada  de homem feito trouxe aos meus ouvidos estranha melodia . 
Foi então que descobri Coimbra nunca vista pelos olhos da alma de um "puto"de dez anos, nascido e criado na  aldeia...


sábado, 5 de maio de 2012

Diligência para Coimbra com retorno

Subsídio para a história dos transportes públicos de Arganil

        O meu amigo Abel Ventura Fernandes, através do  Facebook, comentou a imagem que captei algures em Arganil e agora reproduzo. Pela importância do relato, destaco-o com a devida vénia.


Embora sumido, um pequeno dístico fixo no veículo atesta a sua anterior propriedade

"Esta charrete faz parte da história dos transportes públicos, de que Arganil foi pioneira, através da empresa (salvo erro) Eduardo Jorge, mais tarde Empresa Automobilística Arganilense, empresa desaparecida, por ter sido comprada por uma outra empresa dos lados de Pedrógão Grande.  
Esta charrete foi utilizada para transporte de passageiros em viagens entre Arganil/Coimbra e volta, era puxada por 2 cavalos, bestas que eram revezadas em Ponte Mucela, onde a empresa de então tinha uma cocheira para descanso e alimentação dos animais. Tudo isto são coisas que  foram transmitidas boca a boca, quando pertenci a  uma equipa que nos finais dos anos 70 e durante os anos 80, no Grupo Folclórico da Região de Arganil, fez pesquisa e recolhas para o património de danças, cantares e outras tradições desta região. Naturalmente, foram surgindo várias estórias  a que  dedicámos pouca importancia (foi o caso), e não ficou registo, daí  a informação que reproduzo não ser perfeita e completa, terá algumas imprecisões.
Esta pequena diligência foi doada ao G.F.R.A. através da minha falecida mãe (MARILÚ), Mª de Lourdes Mendes Ventura, que era a Presidente do Grupo, pela família,  já falecida,  de Eduardo Jorge e José Jorge. O veículo encontrava-se num barracão de uma quinta, ali para os lados da Alagoa. Na altura,  pensou-se recuperar totalmente  a peça,  não aconteceu...  e assim se mantém  até aos dias de hoje".
Abel Fernandes