sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Estórias antigas

Os filósofos da bica e alguns “entendidos da matéria”, entre duas “imperiais”, especulam de forma brejeira (sem necessidade, digo eu…) sobre a idade de cada conviva, e não é de admirar um “puto de quarenta” dizer a outro, na mesma faixa etária, que está a ficar “velho”, ou já lá mora, quando ela, a velhice, se faz anunciar com uma simples e fugaz enxaqueca, por exemplo, ou se determinado “jovem” assume cansaço físico depois de uma noite de pândega. (Há indícios bem mais aborrecidos, e desses quero distância, nem os “enuncio”!).

Depois, há sempre um ou outro, de conversa mais séria na aparência (rosto fechado, voz timbrada, palavras eruditas…), que afirma ser a velhice coisa natural! Um deles chegou a encadear uma ladainha, que começou na concepção da vida e terminou…na “terceira idade”.

Na verdade, a contagem decrescente pode ser contabilizada a partir do momento da fecundação, mas imaginar uma criança daí a uns bons e largos anos, no tempo do ocaso da sua existência, não é ideia que se tenha, sobretudo quando os mais pequenos nos brindam com gestos de inocência e/ou palavras de excelsa ternura, deduções lógicas e inteligentes na curiosidade – momentos de espanto e admiração que guardamos na caixinha das memórias como autênticas relíquias.

A Margarida contou-me que o infante Guilherme só come peixe se este lhe aparecer no prato, inteiro, da cabeça ao rabo; de resto recusa-se a ingerir qualquer posta de “peixe mutilado”, que é como quem diz, na sua imaginação, retalhado aos pedaços, grandes ou pequenos. Mas do que o Guilherme não gosta mesmo nada é de “morangos mortos”, ou seja:   iogurtes onde apareçam bocadinhos daquele fruto.

Uma vez, um dos meus filhos, o Carlo, resolveu semear um caroço de laranja num dos vasos com plantas, que ornamentavam a entrada do prédio onde habitávamos; a sua maior preocupação era, no futuro, o crescimento da árvore e os frutos que haviam de nascer; certamente os vizinhos iriam “roubar as suas laranjas” , e isso não admitia!...

Enfim, “estórias” que Fernando Pessoa por certo quis retratar de forma sublime quando escreveu que o “melhor do mundo são as crianças”!

“Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças…”- disse ele.

(...)19.03.09 / Ritualidades