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domingo, 24 de abril de 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
O segredo, segundo Gabriel Garcia Márquez
A senhora é de poucas falas, na verdade mal a conheço, mas sempre que nos cruzamos sorri e toma a iniciativa do cumprimento de ocasião.Há dias, fomos mais longe nas palavras de circunstância, à mesa do café, e a senhora perguntou como ia o meu coração - calmo e sossegado, disse, e se se referia ao "aviso" com que me abanou, faz agora quatro anos, não ficaram sequelas; cuido-me o melhor que sei e posso, vou indo... andando!
Disse a senhora: como sempre o vi sorrir, ninguém diria que esteve com um "pé no outro lado"...
Naturalmente, sorri. Nem sempre o sorriso é sinal despreocupado da melhor disposição, respondi.
Cito Gabriel Garcia Márquez: "Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiveres triste, porque nunca se sabe quem se pode apaixonar pelo teu sorriso".
Com esta memória de um dos meus escritores favoritos, regressei a casa. Depois, procurei na estante palavras do mesmo autor e encontrei uma mão cheia de frases anotadas - escolhi a que me parece mais consentânea com a realidade:
"O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão".
sexta-feira, 8 de abril de 2011
domingo, 3 de abril de 2011
O dia das “verdades”
Escrevo hoje por ser dia das mentiras, o que, só por si, é uma enorme mentira.
Se este um de Abril de todos os anos fosse apenas o ÚNICO dia das mentiras, então sim, hoje seria o dia certo para o lembrar; como não é, ficamos na dúvida se devemos, ou não, instituir o dia das VERDADES.
Diz-se que a mentira tem perna curta, o que é um tremendo erro: a mentira tem passada de gigante, salto de gazela, pulo de canguru, voo de condor e … mais não digo porque não sou do tempo dos dinossauros. Afiançam que uns voavam, outros corriam como galgos…
Tenho uma certa predilecção pela mentirinha que não faz mal a ninguém, não chateia, mas detesto a mentira grossa, escrita em maiúsculas. Quando “dou de caras” com uma, travestida de verdade, fico fulo, danado! Mania minha, claro, porque as primaveras do B.I. são mais de sessenta, o que, só por si, é suficiente para “ter juízo”…
Li por aí, há tempos, que a mentira é uma espécie de ”capa de estudante” com que cobrimos a nossa existência, toda ela repleta de… inverdades – assim mesmo: inverdades! Será? A acreditar nos argumentos do criador deste pensamento, somos todos … “mentira em carne e osso”!
Escuso-me a avançar com as explicações filosóficas do autor, mas sempre vos digo que é da sua lavra o seguinte: em criança, inventamos mentiras que nos acompanham até à tumba, e é com elas, e por elas, que somos mais ou menos felizes, mais ou menos famosos, mais ou menos ricos… e por aí fora, entre o mais e o menos da consciência… de quem a tiver – digo eu.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Exercício sobre dois búzios (de Sophia de Mello Breyner)
Um acaso devolveu-me à leitura de “Contos Exemplares”, de Sophia de Mello Breyner. O livro, que descobri numa arca no sótão, editado em 1971, tem as folhas amarelecidas pelo tempo – nunca as palavras imortais da autora.
Nesta edição (a quarta), o então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, assina o prefácio e é pela leitura das páginas que escreveu – mais de cinquenta! – que D. António nos remete para a excelência da obra de Sophia, apontando a sua enorme espiritualidade como referência a ter em conta.
À genialidade do conhecimento de D. António Ferreira Gomes junte-se o talento da maior poetisa portuguesa, e ficamos com uma “peça rara” do nosso património cultural.
Qualquer português minimamente culto conhece alguma coisa de Sophia de Mello Breyner. Particularmente, creio que “A Viagem” é uma espécie de catecismo pelo facto de dimensionar a esperança de qualquer humano, entre o “Alfa e o Ómega”, até aos limites do quase impossível! Na estória de ficção, além do mais, a autora desenha poesia e poetiza a música das palavras, como sempre fez, com sensibilidade ímpar.
Não admira que a saudade de si, por tudo quanto legou à Humanidade, regresse nas asas do tempo, como a excepcional voz da cantora brasileira Maria Bethânia deixa transparecer no álbum “Mar de Sophia”, editado, salvo erro, o ano passado, onde o mar e os seus símbolos, a partir da poesia de Sophia de Mello Breyner, nos transportam para viagens de completo encantamento.
Para meu regalo, a comunhão do belo (as palavras da Sophia na voz da Bethânia) chegou aos meus ouvidos numa tarde calma, bem longe do mar que a poetisa amava como se fosse coisa sua – somente sua! A “minha serra” sempre foi o lugar perfeito para a poesia que me enche a alma – por vezes descubro por cá, no silêncio, oceanos de emoções que nem a morte há-de apagar da memória dos vivos! …
E hei-de “voltar à minha serra”, como a Sophia ao seu mar:
-“Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não passei ao pé do mar”!
Ainda nos “Contos Exemplares”, num deles (Homero) a autora retrata “… um velho louco e vagabundo a quem chamam Búzio…”. Obviamente, o texto mantém o estilo e a arte poética de Sophia..
De novo e sempre o mar:
-”O Búzio era como um monumento manuelino: tudo nele lembrava coisas marítimas…”.
Em Junho passado, depois das férias, conheci outro búzio: “ O Búzio de Cós e outros poemas” – novas imagens de outros mares que Sophia não precisa mencionar – basta uma simples e bela concha fusiforme e fica perfeito o cenário de Cós, ilha do mar Egeu, onde Sophia comprou o búzio “numa venda junto ao cais…”.
Às suas epopeias, Sophia de Mello Breyner, agrega dois búzios impregnados de simbologia que tocaram a minha sensibilidade: a um faltava o aconchego de uma “concha”: “ O Búzio não possuía nada, como uma árvore não possui nada. Vivia com a terra toda que era ele próprio...”; ao outro não ouvia “ … nem o marulho de Cós nem de Egina…”.
Por mais que me deleite nas marés dos seus poemas, fico sem saber quantos mares formam o caleidoscópio da áurea de Sophia de Mello Breyner…
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In: "Correio da Beira Serra" / 4 de Março de 2008
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