De
autor desconhecido, o texto, recorda o ano de 1942 como sendo o começo da
vivência de Torga por terras do Alva, o
rio, com a Serra do Açor à vista.
“É
bonito, o Alva! Manso, claro, calado, sem a tragédia do Douro nem a grandeza do
Tejo, é bem o rio da Beira, que define a Beira (…) “ - escreveu o poeta e
escritor.
O autor da brochura “acompanha”
Miguel Torga nos pormenores:
“É esta, efetivamente, a primeira referência de Miguel Torga ao
concelho de Arganil, e representa, certamente,
uma sua permanência no Vale do Alva, visto que no Volume II do Diário
alude a uma passagem por Avô, e no
regresso a Barril de Alva escreve, no dia 28 de setembro de 1942 o poema com o
título “Saudação” (…). A ligação de
Miguel Torga ao concelho de Arganil, iniciada em Barril de Alva, vai
manter-se, praticamente até ao fim (…).
Saudação
Não sei se
comes peixes, ou não comes,
Irmão poeta Guarda-Rios:
Sei que tens o céu nas asas e consomes
A força delas a guardar rios.
É que os rios são água em mocidade
Que quer correr o mundo e conhecer;
E é preciso guardar-lhe a tenra idade,
Que a não venham beber ...
Ave com penas de quem guarda um sonho
Líquido, fresco, doce:
No meu livro te ponho,
E eu no teu rio fosse ...
Irmão poeta Guarda-Rios:
Sei que tens o céu nas asas e consomes
A força delas a guardar rios.
É que os rios são água em mocidade
Que quer correr o mundo e conhecer;
E é preciso guardar-lhe a tenra idade,
Que a não venham beber ...
Ave com penas de quem guarda um sonho
Líquido, fresco, doce:
No meu livro te ponho,
E eu no teu rio fosse ...
Mais adiante, o
autor desta compilação histórica refere ” … que a sede do concelho
(Arganil) lhe mereceu maior atenção e, por isso, em junho de 1943, Miguel Torga
anota no 3º Diário, uma das principais apreciações psicológicas ao homem
da Beira Serra”:
Esta Beira confunde-me. Vejo que há nela qualquer coisa de específico e
de seu, que tem grandeza e verdade, quase que vislumbro a coisa nestes pequenos
rios que correm sem fúria e nestas serras sem majestade, mas não apanho a
verdade toda. Foge-me o fio da meada por entre os xistos das casas e os xis da língua. Não é desconfiança que
reina aqui. É talvez prudência, cautela, o sentimento natural que se tem num
chão sem grandes horizontes (…)”.
(continua)
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