segunda-feira, 16 de abril de 2018

Torga - Barril de Alva, ponto de partida





Guardo um dossiê sobre a passagem de Miguel Torga por Arganil, de acordo com os seus “Diários”. 
De autor desconhecido, o texto, recorda o ano de 1942 como sendo o começo da vivência  de Torga por terras do Alva, o rio, com a  Serra do Açor à vista.

É bonito, o Alva! Manso, claro, calado, sem a tragédia do Douro nem a grandeza do Tejo, é bem o rio da Beira, que define a Beira (…) “ - escreveu o poeta e escritor.

O autor da brochura “acompanha” Miguel Torga nos pormenores:
“É esta, efetivamente, a primeira referência de Miguel Torga ao concelho de Arganil, e  representa, certamente, uma sua permanência no Vale do Alva, visto que no Volume II do Diário alude  a uma passagem por Avô, e no regresso a Barril de Alva escreve, no dia 28 de setembro de 1942 o poema com o título “Saudação” (…). A ligação de Miguel Torga ao concelho de Arganil, iniciada em Barril de Alva, vai manter-se, praticamente até ao fim (…).

Saudação
Não sei se comes peixes, ou não comes,
Irmão poeta Guarda-Rios:
Sei que tens o céu nas asas e consomes
A força delas a guardar rios.

É que os rios são água em mocidade
Que quer correr o mundo e conhecer;
E é preciso guardar-lhe a tenra idade,
Que a não venham beber ...

Ave com penas de quem guarda um sonho
Líquido, fresco, doce:
No meu livro te ponho,
E eu no teu rio fosse ...
  
Mais adiante,  o autor desta compilação  histórica refere ” … que a sede do concelho (Arganil) lhe mereceu maior atenção e, por isso, em junho de 1943, Miguel Torga anota no 3º Diário, uma das principais apreciações psicológicas  ao homem da Beira Serra”:                                                                                 
Esta Beira confunde-me. Vejo que há nela qualquer coisa de específico e de seu, que tem grandeza e verdade, quase que vislumbro a coisa nestes pequenos rios que correm sem fúria e nestas serras sem majestade, mas não apanho a verdade toda. Foge-me o fio da meada por entre os xistos das casas  e os xis da língua. Não é desconfiança que reina aqui. É talvez prudência, cautela, o sentimento natural que se tem num chão sem grandes horizontes (…)”.

 (continua)


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