quinta-feira, 25 de abril de 2019

O que me diz o tempo

… Se calhar, “sou de lá”


Num dia como este, com um cravo vermelho na lapela das minhas memórias, em silêncio, regresso ao “outro lado do tempo”- o tempo é algo que me confunde pela viagem apressada até aos dias  do agora: eu, “setentinha”, que o cabelo grisalho acentua sem convencer a “ideia que trago no pensamento”:
- Eu, quarentão… ou um pouco mais…
Pauso no (meu) tempo “trintão” e “regresso” a João Belo, no Xai Xai, e reencontro-me   com a terra e as pessoas, odores, sabores, hábitos e costumes.
Volto mais atrás, ao tempo que me viu crescer, de menino a adulto.
- A primeira paixoneta, ainda “visível” na lembrança, na Malhangalene, em Lourenço Marques, a paixão pela prática do futebol no Benfica de “lá”, o colégio, a Casa Vilaça (espécie de universidade onde cultivei conhecimentos sobre a estética do belo…), a Juventude Operária Católica (JOC) e o teatro, o ingresso na Aeronáutica Civil, ser fã indelével da Natércia Barreto e dos seus “Óculos de Sol”, dos grupos “Night Stars”, de L.Marques, “Shadows”, “Beatles” e de tantos outros artistas do top internacional, como Gilbert Bécaud, as matinés no Scala; o serviço militar, de Boane à Maxixe, Inhambane e Vila Cabral, no Niassa, através da prática  de experiências jornalísticas nos “Jornais da caserna” “Gazela”, “Kuambone” e a “Voz do 20”, à Ação  Psicossocial,  como elemento da especialidade IOR (Informações, Operações e Reconhecimento); a colaboração no “Notícias”, de L. Marques, depois no "Diário",  a chefia de uma secção administrativa na Fábrica Siesta, em L. Maques, ao Ford Escort 1300 GT, o meu primeiro automóvel...
Num dia como este, com um cravo vermelho na lapela das minhas memórias, em silêncio, “regresso” no tempo a João Belo, onde constitui família, à “Casa Fonseca”, aos torneios de futebol de salão, às praias do Xai Xai, ao Bilene…
O 25 de Abril de 1974 veio ter comigo quando a família crescia: a Carla e o Carlo eram todo o nosso enlevo.
Embora não tivesse nascido em Moçambique, acreditava que “era dali” – aquele país era a minha Pátria!
Num dia como este, com um cravo vermelho na lapela das minhas memórias, em silêncio, recuo ainda mais no tempo, a Portugal - ao tempo da escola primária, no Barril de Alva, do liceu D. João III, em Coimbra, ao Externato Alves Mendes, em Arganil, e ao… Urtigal da minha meninice…
… Se calhar, “sou de lá”, do Urtigal  - é  o que me diz o tempo.