sexta-feira, 6 de abril de 2018

Filarmónica "Pátria Nova": - (...) "Sim, vamos para a frente" (...)


A Filarmónica Pátria Nova, de Coja, viveu horas terriveis em Gondolim, Penacova. Com a devida vénia,   pela importâcia do momento e das palavras, partilha-se o texto publicado pelo maestro Daniel Simões Gonçalves , a quem saúdo de forma amistosa e, na sua pessoa, os exceutantes da "Pátria Nova" e seus dirigentes.


"Num mesmo dia, separadas por breves horas, estas imagens, em que o bombo é destaque, mostram parte do que nos fica depois de um esforço, que nunca desanima mas que nos cansa, e do qual nem sempre mostramos o verdadeiro lado. 
Não sou cronista, leio umas coisas de vez em quando, ouço mais, na rádio, quando nos meus duzentos e tal Km diários assim exigem. Destes dias, o incontornável montante do apoio às artes em 2018, o seu modelo de seleção, júris, critérios... E nós em Gondelim, perdidos entre o dever de agradar a quem nos convida para colaborar nas suas festas e a necessidade de poupar os colegas a mais uma molha, os instrumentos a mais uma revisão e os sapatos a mais umas poças. 
Dizem que as filarmónicas são parte integrante da cultura de um povo, tal como as festividades e nestas, o incontornável, para alguns amantes, fogo, alegres explosões pirotécnicas a fazer reviver tempos idos. "Estava a ver que tinha que me atirar para o chão", disse-me minutos depois o Sr. João... "Nem na tropa!...". Isto vindo deste homem que combateu em Angola mete respeito.

Mas ía eu na cultura, e a arte? Será que andamos nas filarmónicas por linhas paralelas à arte ou também nos intersectamos nalgum ponto? Creio que sim somos arte, compomos umas coisas, ora retirando tempo à família, ora à cama ou a ambas, interpretamo-las, reinventamo-las, uns melhor que outros, como tudo, como sempre, do jeito que as sensibilidades permitem. Mas desses milhões de euros, escassos milhões, aqui, a esta realidade subcultural dos pés enlameados, nada chegará.

Orgulho-me de representar, em muitos dias da minha vida, uma filarmónica com 58 executantes, uma escola de música ativa e partilhar preocupações com uma família atenta de diretores e amigos das filarmónicas e desta em particular. Orgulho-me de acreditar que é possível fazê-lo em Coja, numa outra freguesia do concelho de Arganil que não a sua sede, com colegas de freguesias limítrofes e é um gosto, uma dedicação extrema sempre recompensada pela motivação e presença dos colegas. Eles são cultura mas também são arte viva, são para mim e para muitos outros, não o serão para o estado nem para as múltiplas estruturas que, criteriosas, canalizam os fundos.
Volto à passada quarta-feira, estávamos, já se sabe, em Gondelim e, durante a eucaristia em que participávamos, o início da homilia foi interrompido por uma uma violentíssima explosão à qual se sucedeu uma outra ainda maior mas que os ouvidos interromperam com agudo zunir que nos largou minutos depois, à nossa frente portas e janelas suspensas... Preservámos o grupo, reunímo-nos e, depois de reunidos, ali ao lado, no outro lado do edifício, saímos dali para o autocarro. Tivemos 4 colegas feridos, estão bem, foram socorridos e, felizmente, escoriações à parte, os tímpanos de dois deles corrigirão dentro de 1 ou 2 meses. Houve muito pior, é sabido, a todos desejo as melhoras.
O que nos fica agora, para além do habitual contentamento do que poderia ter acontecido e não chegou a acontecer, é trabalho, muito trabalho que nos espera para recuperar fardamento, material de desfile como estantes e cadernetas e instrumentos, 30 que ficaram ou totalmente ou parcialmente destruídos enquanto repousavam da arruada no palco/coreto do recinto de festas. 
Queria muito que o grupo não se tivesse sujeitado a tal. De certa forma, egoísta, eu próprio e os meus. Sim, vamos para a frente e com a ajuda de todos conseguiremos. Há um punhado de gente destas artes que se acercou de nós a oferecer concertos, empréstimo de instrumentos, palavras e força, temos os colegas, os familiares, associados e amigos. A TODOS, desde já, o meu muito obrigado. São todos vós que nos vão ajudar agora, enquanto as investigações decorrem e as seguradoras se travam de razões e outros, esperamos que a sensibilidade lhes permita, possam canalizar fundos de todos nós para auxílio atempado à associação que comemora, neste preciso ano, o seu 150.º aniversário, com notória vitalidade.
Talvez não leiam tanto, foi um desabafo, pelo menos é verdadeiro. Apresento as minhas desculpas e total disponibilidade para ajudar a que estes dias sirvam para algo mais do que promessas vãs e, já agora, esta coisa de foguetes, para mim, neto do Albano Poeta, fogueteiro, já não se usam e de nada servem para nos tornar melhores os dias".

Sem comentários: