quarta-feira, 25 de abril de 2018

Cepos - Miguel Torga deliciado com a paisagem


Volto ao dossiê que tenho entre mãos  e  ao relato da  passagem de Miguel Torga pela  Beira Serra.
Depois do poema “Saudação”, escrito em 1942 junto  à ponte sobre o Alva,  que separa o Barril de Alva de Vila Cova de Alva,  “… Miguel Torga em 1943 dá início ao seu contacto  com  as serranias, inicialmente,  através  de expedições venatórias, tendo por companhia, para além do Dr. Fernando Vale,  de  diversos arganilenses como  Guilherme Marques Coelho, ou o sr. Mamede, de quem disse um dia que  trazia as “perdizes inventariadas”.
 Nos Cepos, “…deliciado com a largueza de vistas que se estende pelas terras vizinhas do concelho de Pampilhosa da Serra”,  escreve no 3º Diário:

 “Cepos, 21 de abril Um pederasta perdido nestas serras  com versos eróticos fechados numa gaveta de castanho.  Os Penedos de Fajão em frente, os de Vidual mais além, ondas e ondas  de estamenha  encapeladas a té ao fim dos olhos, num exemplo viril de criação. Mas o gérmen  da inversão de tudo reside em tudo. Este pobre homem, sem o saber,  representa aqui o gigantesco papel de oposição de vida  à sua própria plenitude


Cepos - foto de  "Rouxinol de Pomares"

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Urtigal - apesar de tudo, o verde da esperança


Seis meses depois da catástrofe ambiental, voltei ao Urtigal.
A caminhada estava prometida, de mim para mim, ao jeito de quem vai em romagem de saudade a um pequeno paraíso, agora e ainda com a paisagem pintalgada de matizes castanhos, pretos e cinzentos. O verde, apesar de tudo, voltou em força - sinal de esperança no futuro, que se “reivindica” à mãe Natureza.
O rio, de corpinho bem feito, mas um pouco anafado, acomoda-se no leito e vai apressado - terá as suas razões, o Mondego espera-o em Porto da Raiva.
O som grave da água, quando salta o caneiro, sobressai no palco, que é o Urtigal, mas faltam as “vozes” dos intérpretes das maviosas melodias. Espera-se que a ausência dos passarinhos cantores (sobretudo o rouxinol) seja passageira, como a  nuvem   do Hermes Aquino, o artista/cantor.
Da comunidade residente no rio, o Alva nada diz, guarda segredo; mesmo de cócoras, à beirinha da água, não consegui ver um barbo, por mais pequenote que fosse – eles, como gostam de águas fundas e rápidas, estão camuflados e longe das vistas dos curiosos.
A descer, foi fácil; subir a encosta, nem um pouco. Do alto, durante mais uma curta paragem, fico de frente para o rio, que me parece bem mais apertadinho e pouco apressado na curva, junto à fonte de águas cristalinas, de bica cheia, como se fosse inverno …
Um dia volto, prometo, com a certeza de que, infelizmente,  não será tão breve como desejo o retorno  do Urtigal do passado recente…
Há feridas que o tempo, e alguns pensos rápidos, cicatrizam. Vai faltar-me esse tempo.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Torga - Barril de Alva, ponto de partida





Guardo um dossiê sobre a passagem de Miguel Torga por Arganil, de acordo com os seus “Diários”. 
De autor desconhecido, o texto, recorda o ano de 1942 como sendo o começo da vivência  de Torga por terras do Alva, o rio, com a  Serra do Açor à vista.

É bonito, o Alva! Manso, claro, calado, sem a tragédia do Douro nem a grandeza do Tejo, é bem o rio da Beira, que define a Beira (…) “ - escreveu o poeta e escritor.

O autor da brochura “acompanha” Miguel Torga nos pormenores:
“É esta, efetivamente, a primeira referência de Miguel Torga ao concelho de Arganil, e  representa, certamente, uma sua permanência no Vale do Alva, visto que no Volume II do Diário alude  a uma passagem por Avô, e no regresso a Barril de Alva escreve, no dia 28 de setembro de 1942 o poema com o título “Saudação” (…). A ligação de Miguel Torga ao concelho de Arganil, iniciada em Barril de Alva, vai manter-se, praticamente até ao fim (…).

Saudação
Não sei se comes peixes, ou não comes,
Irmão poeta Guarda-Rios:
Sei que tens o céu nas asas e consomes
A força delas a guardar rios.

É que os rios são água em mocidade
Que quer correr o mundo e conhecer;
E é preciso guardar-lhe a tenra idade,
Que a não venham beber ...

Ave com penas de quem guarda um sonho
Líquido, fresco, doce:
No meu livro te ponho,
E eu no teu rio fosse ...
  
Mais adiante,  o autor desta compilação  histórica refere ” … que a sede do concelho (Arganil) lhe mereceu maior atenção e, por isso, em junho de 1943, Miguel Torga anota no 3º Diário, uma das principais apreciações psicológicas  ao homem da Beira Serra”:                                                                                 
Esta Beira confunde-me. Vejo que há nela qualquer coisa de específico e de seu, que tem grandeza e verdade, quase que vislumbro a coisa nestes pequenos rios que correm sem fúria e nestas serras sem majestade, mas não apanho a verdade toda. Foge-me o fio da meada por entre os xistos das casas  e os xis da língua. Não é desconfiança que reina aqui. É talvez prudência, cautela, o sentimento natural que se tem num chão sem grandes horizontes (…)”.

 (continua)


sexta-feira, 13 de abril de 2018

Filarmónica Barrilense - jantar convívio recupera tradição

Com o intuito de angariar fundos que permitam o desafogo financeiro da  coletividade, a Filarmónica Barrilense agendou para o serão de hoje, sexta feira, um jantar convívio. Mais de oitenta pessoas  responderam positivamente ao apelo, o que se regista com agrado. 
Para recuperar a tradição, os serviços de apoio à cozinha e  mesas foram desempenhados pelos associados  - pormenor a merecer destaque. 
A  iniciativa terá continuidade  no próximo mês de maio.
Como apontamento final, boa nota à mudança do bar para o espaço original, no primeiro andar, que satisfez  os convivas.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Filarmónica "Pátria Nova": - (...) "Sim, vamos para a frente" (...)


A Filarmónica Pátria Nova, de Coja, viveu horas terriveis em Gondolim, Penacova. Com a devida vénia,   pela importâcia do momento e das palavras, partilha-se o texto publicado pelo maestro Daniel Simões Gonçalves , a quem saúdo de forma amistosa e, na sua pessoa, os exceutantes da "Pátria Nova" e seus dirigentes.


"Num mesmo dia, separadas por breves horas, estas imagens, em que o bombo é destaque, mostram parte do que nos fica depois de um esforço, que nunca desanima mas que nos cansa, e do qual nem sempre mostramos o verdadeiro lado. 
Não sou cronista, leio umas coisas de vez em quando, ouço mais, na rádio, quando nos meus duzentos e tal Km diários assim exigem. Destes dias, o incontornável montante do apoio às artes em 2018, o seu modelo de seleção, júris, critérios... E nós em Gondelim, perdidos entre o dever de agradar a quem nos convida para colaborar nas suas festas e a necessidade de poupar os colegas a mais uma molha, os instrumentos a mais uma revisão e os sapatos a mais umas poças. 
Dizem que as filarmónicas são parte integrante da cultura de um povo, tal como as festividades e nestas, o incontornável, para alguns amantes, fogo, alegres explosões pirotécnicas a fazer reviver tempos idos. "Estava a ver que tinha que me atirar para o chão", disse-me minutos depois o Sr. João... "Nem na tropa!...". Isto vindo deste homem que combateu em Angola mete respeito.

Mas ía eu na cultura, e a arte? Será que andamos nas filarmónicas por linhas paralelas à arte ou também nos intersectamos nalgum ponto? Creio que sim somos arte, compomos umas coisas, ora retirando tempo à família, ora à cama ou a ambas, interpretamo-las, reinventamo-las, uns melhor que outros, como tudo, como sempre, do jeito que as sensibilidades permitem. Mas desses milhões de euros, escassos milhões, aqui, a esta realidade subcultural dos pés enlameados, nada chegará.

Orgulho-me de representar, em muitos dias da minha vida, uma filarmónica com 58 executantes, uma escola de música ativa e partilhar preocupações com uma família atenta de diretores e amigos das filarmónicas e desta em particular. Orgulho-me de acreditar que é possível fazê-lo em Coja, numa outra freguesia do concelho de Arganil que não a sua sede, com colegas de freguesias limítrofes e é um gosto, uma dedicação extrema sempre recompensada pela motivação e presença dos colegas. Eles são cultura mas também são arte viva, são para mim e para muitos outros, não o serão para o estado nem para as múltiplas estruturas que, criteriosas, canalizam os fundos.
Volto à passada quarta-feira, estávamos, já se sabe, em Gondelim e, durante a eucaristia em que participávamos, o início da homilia foi interrompido por uma uma violentíssima explosão à qual se sucedeu uma outra ainda maior mas que os ouvidos interromperam com agudo zunir que nos largou minutos depois, à nossa frente portas e janelas suspensas... Preservámos o grupo, reunímo-nos e, depois de reunidos, ali ao lado, no outro lado do edifício, saímos dali para o autocarro. Tivemos 4 colegas feridos, estão bem, foram socorridos e, felizmente, escoriações à parte, os tímpanos de dois deles corrigirão dentro de 1 ou 2 meses. Houve muito pior, é sabido, a todos desejo as melhoras.
O que nos fica agora, para além do habitual contentamento do que poderia ter acontecido e não chegou a acontecer, é trabalho, muito trabalho que nos espera para recuperar fardamento, material de desfile como estantes e cadernetas e instrumentos, 30 que ficaram ou totalmente ou parcialmente destruídos enquanto repousavam da arruada no palco/coreto do recinto de festas. 
Queria muito que o grupo não se tivesse sujeitado a tal. De certa forma, egoísta, eu próprio e os meus. Sim, vamos para a frente e com a ajuda de todos conseguiremos. Há um punhado de gente destas artes que se acercou de nós a oferecer concertos, empréstimo de instrumentos, palavras e força, temos os colegas, os familiares, associados e amigos. A TODOS, desde já, o meu muito obrigado. São todos vós que nos vão ajudar agora, enquanto as investigações decorrem e as seguradoras se travam de razões e outros, esperamos que a sensibilidade lhes permita, possam canalizar fundos de todos nós para auxílio atempado à associação que comemora, neste preciso ano, o seu 150.º aniversário, com notória vitalidade.
Talvez não leiam tanto, foi um desabafo, pelo menos é verdadeiro. Apresento as minhas desculpas e total disponibilidade para ajudar a que estes dias sirvam para algo mais do que promessas vãs e, já agora, esta coisa de foguetes, para mim, neto do Albano Poeta, fogueteiro, já não se usam e de nada servem para nos tornar melhores os dias".

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Carlos Nobre é o novo presidente da Filarmónica Barrilense



O ato eleitoral da Associação Filarmónica Barrilense, realizado no passado dia 30 de março, deve ser  visto  como  marco histórico na vida da instituição e faz renascer a esperança de uma vida nova. Débil, como a maioria das suas congéneres concelhias,  a centenária Filarmónica necessita da dedicação total dos seus associados, agora liderados pelo “núcleo duro” da nova gerência, encabeçada  pelo barrilense Carlos Nobre. Se  cada um de nós, com as  suas competências  e qualidades, (…) teimosos e cabeçudos beirões  (…), como disse Miguel Torga quando se referiu à construção do moribundo teatro Alves Coelho, for solidário  na paixão do amor, a Associação Filarmónica Barrilense, a médio prazo, poderá deixar o limbo vegetativo da sua penosa sobrevivência...

Assembleia Geral
Presidente - Joel Mascarenhas
Vice Presidente - Sérgio Nogueira
Secretária - Cláudia Brito
Conselho Fiscal
Presidente - Hugo Ramos
Vice Presidente - José Brito
Secretário - José Castanheira
Direção
Presidente - Carlos Nobre
Vice - João Fernandes
Vice - José Pedro Brito
Vice - José Alberto Tavares
1º Secretário - Rita Bernardo
2º Secretário - Acácio Simões
1º Tesoureiro - Luís Alberto Jesus
2º Tesoureiro - João Tavares
Vogal - Armando Lopes
Vogal - Carlos Alberto Santos
Vogal - António Cunha
Suplente - Paulo Madeira