- O
Rio Alva como foi descrito por Pinho Leal*
“Nasce
na serra da Estrella, de uma das lagôas que estão no alto da Serra. (Vide
Estrella).
Principia o seu curso no sitio da Cabreira. Perde o nome no sitio de Porto de
Boi, e d'ahia uns 80 metros, no sitio de Summo, se esconde por baixo da
terra, tornando a sahir na ponte de Caniços.
É um tunel natural, onde a luz penetra por oculos, também naturaes.
Abaixo d'esta ponte se lhe junta o ribeiro de Sabugueiro, tendo próximo uma
ponte de pedra.
Aqui se espaira e forma o grande Pégo de Pedro Gil, e por baixo tem outra ponte
de pedra, próximo a Villa-Cóva da Coelheira. Até aqui as suas águas são inutéis
por correrem muito fundas, por entre penhascos; mas d'aqui para baixo
principiam a ser aproveitadas em moinhos e regas.
Passa a villa de Sandomil(a 18 kilometros da origem do rio), e vae
até á villa da Feira(não á villa da Feira provincia do Douro, mas á da
Beira), daqui á vila de Avô, onde têm uma ponte de pedra, e d'aqui passa a
famosa ponte de Villa Cova de Sub-Avô, vae a Cója, onde têm outra ponte, e
ahi recebe a ribeira de Cója. Passa a aldeia de Serzêdo, onde se junta o
ribeiro d'este nome, e vai até aos Furados.
Chamam os Furados a um boqueirão, que abriram, por baixo de uma serra, para
regarem campos. Aqui desce a agua por um cachão, de desmedida grandeza, fazendo
tamanho estrondo, que se ouve a grande distância. Todo este aqueduto
subterrâneo é obra dos arabes, e quasi todo aberto a picão, em rocha viva. A
pesca que se faz n'estes Furados é immensa de verão.
Antigamente era todo o peixe dos condes de Pombeiro, que eram os senhores da
terra.
D'ahi vae a Valle de espinho, onde têm uma ponte de um só arco, mas de
maravilhosa architectura.
Morre na esquerda do Mondego, na Foz do Alva. Cria bastante peixe e até á Foz
do Alva chegam lampreias e sáveis; mas poucos, e só até onde o rio não têm
açudes.
Têm 60 kilometros de curso.
As escarpadas margens d'este rio tem muitas minas de oiro, que os romanos e
árabes exploraram, do que há muitos vestigios evidentes junto á ponte de
Murcella e Moura Morta (foral de D. Afonso Henriques no ano de 1151).
Suas areias ainda ás vezes trazem palhetas de oiro”.
-
*Pinho Leal
Augusto Soares de Azevedo
Barbosa de Pinho Leal foi um militar português mais conhecido por historiador,
pela sua monumental obra corográfica: «Portugal Antigo e Moderno», em 12
volumes, publicados em Lisboa pela Livraria Editora de Mattos Moreira entre
1873 e 1890. Wikipédia
Nascimento: 16
de outubro de 1816, Lisboa
Falecimento: 2
de janeiro de 1884, Lisboa
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